O Cheikh Al-Alawi Acontece às vezes, em nossa época, em que a dúvida e o espírito utilitarista se estendem numa camada uniforme cada vez mais invasora, que tenhamos contatos com mundos cuja vida ainda transcorre, semelhante aos pesados rios da Ásia, segundo ritmos seculares — quer tenhamos nos mesclado com sociedades humanas que continuam a obedecer a ideias no sentido verdadeiro do termo, ou seja, a perspectivas originais do espírito, quer o destino nos ponha na presença de um daqueles que representam por si mesmos, e não somente por sua filiação a uma certa civilização, a ideia a partir da qual esta vive há séculos. A ideia que é o segredo, a determinação interna de toda forma tradicional, é por demais sutil e por demais profunda para ser realizada com uma mesma intensidade por todos aqueles que respiram sua atmosfera; portanto, é uma felicidade tanto mais preciosa aproximar-se de um mensageiro espiritualmente representativo de um desses mundos que o Ocidente moderno não consegue compreender. Pode-se comparar o encontro com um desses mensageiros ao que seria, por exemplo, em pleno século XX, o encontro com um santo da Idade Média ou com um patriarca semítico; e foi também essa a impressão que nos deu aquele que foi, em nossa época, um dos maiores Mestres do Sufismo: o Cheikh Al-Hadj Ahmed Abul Abbas ben Mustafa ben Aliwa, conhecido também sob o nome de Cheikh Al-Alawi, que faleceu há alguns meses em Mostaghanem. É dele que gostaríamos de dizer algumas palavras, limitando-nos a descrever, muito simplesmente, seus traços exteriores. As aparências, por mais sugestivas que sejam, importam pouco: mas como esquecer essa aparição de um anacronismo emocionante: esse homem idoso, refinado e grave, que parecia saído do Antigo Testamento ou do Alcorão? Vestido com uma jelabá escura e portando um turbante branco — com sua barba prateada, seus olhos de visionário e suas mãos longas, cujos gestos pareciam pesados pelo influxo de sua barakah — ele exalava algo da ambiência arcaica e pura dos tempos de Sayyidnâ Ibrahim Al-Kalil *. Falava com uma voz enfraquecida, doce, uma voz de cristal rachado, deixando cair suas palavras gota a gota; havia nessa voz um tom resignado e desapegado, e parecia que os pensamentos que ela transmitia não eram mais que exteriorizações muito frágeis, muito transparentes, de uma inteligência por demais consciente de si mesma para se dispersar na corrente das contingências. Seus olhos, duas lâmpadas sepulcrais, não se detendo em nada, só pareciam ver uma só e mesma realidade, a do Infinito, através dos objetos — ou talvez um só e mesmo nada na casca dessas coisas: um olhar muito direto, quase duro por sua imobilidade enigmática, e no entanto pleno de bondade. Com frequência, as longas fendas de seus olhos se abriam subitamente, como por surpresa, ou como captadas por um espetáculo maravilhoso. A cadência dos cantos, das danças e das encantações rituais pareciam se perpetuar nele por vibrações sem fim; sua cabeça por vezes se movia num balanço ritmado, enquanto sua alma estava imersa nos mistérios inesgotáveis do Nome Divino, oculto no dhikr, a Lembrança… Uma impressão de irrealidade vinha de sua pessoa, tão distante ele estava, fechado, inalcançável em sua simplicidade completamente abstrata… Rodeava-o a veneração que se deve ao santo, ao chefe, ao ancião e ao moribundo. Qual era o seu islâm, o seu “abandono” à Realidade divina que se torna fatalidade, porque nossa própria realidade a deixa aparentemente fora de si? Era a perfeição pela ausência de imperfeição, ou o conhecimento pela ausência da ignorância. Nenhuma ação, nenhuma afirmação supérflua, nenhuma busca mesmo de um mérito particular rompia o equilíbrio dessa atitude de islâm; ela era em si mesma seu próprio mérito. Esforço e mérito, semente e colheita não se distinguem mais nesse equilíbrio, cujo círculo cada vez mais se aproximava do ponto central, Allâh… A espiritualidade, quando atingiu em nós certo grau, já não tem necessidade de provar sua realidade por reações exteriores como as obras; ela é estática como o oceano que se estende em sua serena indiferença; ela é — e tudo “é” na consciência que dela podemos ter. Era assim o Cheikh Al-Alawi — rahimahu Allah. ** Por Frithjof Schuon, em Cahiers du Sud, Marselha, agosto-setembro de 1935. * Abraão. ** “Que Allâh lhe seja misericordioso!”, fórmula pronunciada ou escrita após o nome de alguém que já morreu. Artículo*: AQ Más info en psico@mijasnatural.com / 607725547 MENADEL (Frasco Martín) Psicología Clínica y Transpersonal Tradicional (Pneumatología) en Mijas Pueblo (MIJAS NATURAL) *No suscribimos necesariamente las opiniones o artículos aquí compartidos
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