Todas as vezes que o homem se põe diante de Deus com um coração íntegro – ou seja, “pobre” e sem se inflar – ele se põe no solo da certeza absoluta, tanto a de Deus como a de sua salvação condicional. E é por isso que Deus nos fez dom dessa chave sobrenatural que é a prece: a fim de que nós possamos nos pôr diante dele, como no estado primordial e como “sempre e em toda parte”; ou como na Eternidade.
Dissemos: “Quando o homem se põe diante de Deus com um coração íntegro”. Isto exige implicitamente que o homem seja bonae voluntatis: não que ele não tenha jamais pecado, mas que ele viva sempre na intenção de fazer o que o aproxima de Deus, ao mesmo tempo em que se abstém do que afasta de Deus; e que ele manifeste essa intenção por seu comportamento, sem o que, precisamente, ele não poderia se pôr diante de Deus com um coração íntegro.
Tudo isto está ligado à “fé que salva”. A fé não exige que o homem ganhe sua salvação por tais ou quais obras; ela exige a prece e, como uma espécie de prolongamento desta, o cumprimento do dever, na abstenção como na ação. Esse cumprimento, quer seja habitual ou se imponha por circunstâncias particulares, encontra-se santificado pela obra por excelência, a primeira de todas, a prece; e ele participa assim, mais ou menos indiretamente conforme sua natureza, da alquimia libertadora de que a prece é o principal suporte.
Schuon, Resumo de Metafísica Integral (inédito em português), capítulo “A Religião Irrefutável”.
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